sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Primeiro dia - Ciclismo - 148 km

Terminada a transição fui buscar a magrela, que já estava esperando pronta para engolir 148 km de chão. Meu melhor guia, a faixa do monitor cardíaco, foi esquecida no hotel. Um erro básico e que só não me custou mais caro porque o ciclismo é minha modalidade mais forte. Fui dosando em todo o ciclismo de acordo com a minha percepção do cansaço.

O link do percurso completo está no endereço http://ridewithgps.com/routes/6839972

No início do percurso tive que parar em muitos semáforos vermelhos, um verdadeiro castigo para quem está louco para ganhar estrada e terminar logo. Aproveitava cada pausa para tomar um pouco de isotônico ou água com calma.

Após 2 km já não sentia nada abaixo do calcanhar. A temperatura era baixa demais (para alguém que treinou no verão do Rio de Janeiro) para se pedalar e a sensação térmica com o vento era mais baixa ainda. Passei o resto do dia sem sentir meu pé.

No aeroporto, uma ida e volta de quase 20 km, do km 10 ao 30, pude cruzar com os atletas que estavam à minha frente e ver que todos estavam rodando forte e bem consistentes. Alguns acenaram me cumprimentando, no final das contas o maior adversário que você tem em uma prova dessa distância é você mesmo, vencer os próprios medos e receios é muito mais importante do que chegar na frente de qualquer um dos seus competidores. A maioria do pessoal já estava com esse espírito.

Na Narcoosee Road iniciou-se mais uma "no feed zone", um dos trechos onde a equipe não poderia me abastecer por não ter onde parar. O André estava me esperando na esquina, último ponto onde o abastecimento era permitido, com uma caramanhola cheia, garantindo assim meu combustível pelos próximos 23 km.

A Narcoosee é bem longa e muito movimentada, perdi a conta de quantos semáforos eu tive que parar. Quando via um sinal vermelho ou amarelo eu já ia diminuindo a velocidade e soltando as pernas. Foram vários testes de paciência.


Moendo os 148 km de pedal.
A região de Saint Cloud foi um colírio para os olhos. Em primeiro lugar porque pude reencontrar a equipe e me reabastecer, em segundo porque a Carol aproveitou alguns semáforos vermelhos e desceu do carro para conversar comigo, coisa bem pouco comum de se fazer durante uma prova, em terceiro porque o lugar é bonito mesmo, passar pela beira do East Lake Tohopekaliga foi muito bacana.

Um pouco antes de entrar na US-192, uma estrada bem movimentada, parei para aliviar a bexiga. Foi um alívio em todos os sentidos pois era sinal de que a quantidade de líquido que eu estava tomando era mais do que o que eu estava suando, sobrava até um pouco para o xixi. 

Ao entrar na estrada 192 eu estava bem encaixado na posição e confortável, sem problemas ou dores nas costas ou no pescoço, mantendo a posição clipado o tempo todo. Passei os 40 km da 192 com um ventinho cruzado/contra meio chato. O percurso foi todo extremamente plano, bom para elevar a média horária, mas não podia parar de pedalar um segundo sem perder o embalo. Uma descidinha de vez em quando faz bem!

A equipe foi me acompanhando e me abastecendo. Chegamos à conclusão que eles teriam que parar para me abastecer a cada 7 km (+ ou - 15 min) para que eu não tivesse nenhum problema de “pane seca”.

km 63 do pedal

A última vez que eu tinha sentido o meu pé foi antes de montar na bike. A temperatura já tinha subido para 16 graus mas a sensação térmica com todo o vento era cruel. As mãos não estavam tão mal quanto os pés mas ainda assim não era uma temperatura confortável de se pedalar. Para isso o capacete aero com a viseira é muito bom pois tem pouca ventilação e manteve bem a cabeça aquecida.

O penúltimo trecho do ciclismo era logo depois da 192, um segmento de 30 km rumo norte com vento na cara. Era uma estradinha secundária bem tranquila com um cenário rural, muito melhor de se pedalar do que na movimentada highway 192. Nessa estrada o time de apoio conseguiu me acompanhar bem de perto e, apesar do vento, consegui render bem. Não havia acostamento nesse trecho mas não foi necessário por conta do movimento baixo. Treinar na planície entre Macaé-Carapebus-Quissamã-Barra do Furado com o vento nordeste cruel fez aquele vento gelado da Flórida parecer uma leve brisa.


Rumo norte, últimos 30 km do primeiro dia.


Passei o Ariel Heller, um israelense muito sangue bom, enquanto ele fazia alguma manutenção na sua van de apoio. Logo ele reapareceu no meu retrovisor e pedalamos os últimos kms com poucas dezenas de metros nos separando. De certa forma foi bom ter um outro atleta por perto, no decorrer dos 146 km eu encontrei somente 3 deles.

O último trecho foi de pouco mais de 6 km, na highway 528, bem solto e curtindo a chegada ainda com luz do sol, uma das minhas preocupações pois sem sol a temperatura voltaria à casa de um único dígito.

A chegada foi uma delícia. A equipe chegou junto comigo e o tempo final oficial foi de 8:25'50" com a parcial do ciclismo de 5:08'13". Oitavo geral, nada mal para o primeiro dia! Na verdade, para mim foi uma surpresa estar entre os 10 primeiros, meu objetivo final continuava sendo completar a distância nos 3 dias dentro do limite de 12 horas em cada dia.

Cruzando a linha de chegada no primeiro dia.
Recarregando as energias depois da chegada.
A equipe de apoio junto com a Sway,
diretora da prova e ultra-veterana em provas de UM.

Estava muito frio e eu tratei de ir direto para a tenda aquecida de massagem, não tinha nada doendo, nenhuma cãimbra, nenhuma dor aguda, sendo assim a massagem foi básica mas feita pelo Ben Keyes no maior capricho, apenas aplicando pressão nos músculos principais para ajudar na circulação.


Assim que terminei a massagem entrei direto na "Rock´n´Roll Van" e rumamos para o hotel. Uma dose de Endurox R4, outra de Muscle Milk uns 20 minutos depois. Enquanto isso trocávamos impressóes de como tinha sido bom aquele dia. Fui me atualizando nos posts que todos fizeram sobre o Ultraman, quase outra maratona, mas essa era de energia positiva que todos os que estavam perto e longe mandavam por suas mensagens.

Chegando no hotel fui tomar um banho, enquanto isso com a maior eficiência, a equipe providenciou um peito de frango grelhado com salada caesar e um purê de batata no maior capricho! Hora de dormir e descansar, no dia seguinte um percurso de 275 km para rodar!

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